AQUELE DIA


Então ele disse: Corre, corre!
E de forma desengonçada e única, ela correu do jeito que pode enquanto os pingos de chuva insistiam em cair, cada um mais forte que o anterior. Ele tentava proteger os cabelos dela com sua camisa - sem sucesso - nos quais ela havia acabado de lavar/fazer e por isso, reclamava tanto da chuva. Mas ao mesmo tempo, de alguma forma, ela se sentia bem na presença dele, mesmo que a situação não fosse a mais confortável. Ele não poderia ver uma situação melhor para terminar seu dia, já que minutos atrás, já o havia dado por acabado. 
Abrigaram-se na marquise de uma sorveteria da cidade onde havia um homem já quase seco, que deveria estar ali desde o início da chuva. A cidade ficou branca e molhada. Ao mesmo tempo em que pensavam que iria sessar, a chuva parecia aumentar mais. E ali ficaram por alguns minutos. Ela preocupada com a carteira que estava molhada e ele preocupado com ela por estar preocupada com a carteira. A cada olhar um pensamento diferente passava na cabeça dele, que se preocupava com uma pneumonia eminente por causa da roupa molhada que se encontrava a menina. Ela segurava nos braços dele de minuto em minuto e perguntava em voz alta quando a chuva estiaria. 
A noite já caíra, os calçados e roupas de ambos ainda estavam encharcados. Foi quando finalmente a chuva deu uma trégua e conseguiram sair da tal marquise pra a casa dela que ficava a menos de 300 metros dali. Ao dobrar a esquina final, eles escutam roncos vindos do céu, o que sinalizava que choveria novamente.
Quando pararam no portão da casa dela e foram se despedir, um assunto levou a outro, e outro levou a um. Quando viram, já tinham passado 2 horas desde a hora que chegaram. Porém não faltava assunto, nem havia incômodo, mesmo com a roupa molhada. O passado foi o tema principal das conversas. E lembranças geram reflexões, reflexões estas nas quais eles se fitavam de uma forma muito única e incompreensível a outros olhos. Ela tinha um jeito muito meigo, doce e romântico. Achava graça de tudo que ele dizia, a porto de não conseguir falar de tanto rir. Com o olhar fixo no dele, ele nunca deixava escapar nenhuma gafe vindo do menino, mas também não deixava de prestar atenção e comentar cada prelúdio dele ao iniciar uma explicação. Muito meticulosa, detalhista e correta, ela sempre apresentava opiniões bem estruturadas, e cheias de fundamentos. Qualidades tal que faziam o moreno se apaixonar se desejar ficar ali mais 10 horas falando sobre a origem do universo com ela. Ele, por outro lado, era paciente para ouvir o triplo de palavras dela em relação a ele. Ele até preferia que fosse o quadruplo, mas também queria falar para impressionar a moça. Sempre bem humorado e fazendo piadas com tudo, ele fazia a noite da moça um verdadeiro stand up, ali na frente do pequeno portão branco e da calçada mal iluminada pelos postes públicos. Assim como ela, ele gesticulava muito e fazia caras e bocas para contar suas histórias e dar suas opiniões. Ela curtia muito aquele momento, estava se sentindo livre, leve, em paz com o mundo e com si mesma, como a muitos não sentia. Ele simplesmente não conseguia imaginar um lugar melhor na face da terra, para estar naquele momento. Ele sentia o seu estômago contorcer, como se houvesse borboletas nele.
A chuva começou a cair novamente e ficou um clima de assunto inacabado. Os dois se olharam, não acreditando no que estava acontecendo. Ele olhou pra cima, esperando ver um céu com poucas nuvens, acreditando no seu íntimo que a chuva logo passaria, mas sem sucesso. Ela procurou em volta um lugar para se abrigarem, também sem sucesso. Sé lhes restou uma alternativa: Se despedirem e cada um seguir o caminho do seu chuveiro. Foi quando ele a agarrou pelas mãos e rodou-a fazendo uma espécie de carrossel com seus corpos, e claro, fazendo a menina rir muito, além de encher o coração dela de felicidade. Foi ai que decidiram se despedir, enfim. Diminuíram a distância entre ambos e se beijaram de forma carinhosa, apaixonada e com muito sentimento, sem nem ter tocado no assunto antes. Simplesmente aconteceu. Sem muita demora, eles soltaram os lábios um do outro, encostaram a testa, e se olharam sem dizer nada, apenas sorriram. Um sorriso de longa data, se é que me entendem. Ele então, foi soltando a menina da forma mais lenta que pode, mas desejando que aquele momento durasse pra sempre. Ela correspondia à ação dele, soltando-o de forma delicada também, olhando o menino nos olhos com um sorriso de felicidade no rosto, sem acreditar no que acabara de acontecer. Ao virarem as costas um pro outro a caminho de suas respectivas casas…

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Raphael R.